domingo, 28 de março de 2010

Cansado.


Cansado de recomeçar, cansado de cair, cansado de ser fraco.
Cansado de chorar, de reclamar. Cansado de tentar outra vez e dizer..."dessa vez é sério, dessa vez eu não vou cair, vou resistir até o fim".
Cansado da indiferença, da falta de ânimo.
Cansado de guardar projetos, de desperdiçar o tempo, com o nada.


Fecho os olhos e me vejo parado no meio de um longo caminho de terra. Está escuro e a noite não tem luar e nem estrelas.
O caminho é longo, - eu não consigo ver o seu fim.
Apenas eu estou ali, parado e com medo. Muito medo.
Não á nada e nem ninguém ali, alem de eu mesmo.
Não á sons, animais, plantas ou vento. Nada.
Nem mesmo a lua para me distrair, nem mesmo a imensidão do céu para eu contemplar.
De repente o caminho some e eu me vejo parado em meio ao nada, agora nem mesmo direção eu tenho, não existe mais um caminho, não existe mais esperança.
Sou dor e medo parado em meio ao nada, no deserto dos sonhos perdidos, das desilusões.
Acabou-me as forças, acabou-me a fé.
Eu mandei a ajuda ir dar uma volta.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Físico ou Abstrato - Parte 4.



... agora sentada á mesa de um café contemporâneo eu prossigo meu relato de um vida passada, porem viva em lembranças. Afinal o que passou foi o físico, o abstrato permanece e sempre permanecerá.

Diferente do que muitos pensam a vida noturna não é uma aventura atrás da outra. Após alguns meses de Magestri eu já podia montar um manual de passo a passo sobre o que fazer, como fazer e com quem fazer. Aquilo havia caído na rotina. Tornou-se um fardo.
O manual consistia em três fases.
1° Um banho de luxuria. Uma verdadeira metamorfose externa. Eu abandonava meus vestidos de estampas senhoris discretas com busto coberto, e me vestia com micro sais, botas gigantescas, maquiagem provocante, e claro, meu cigarro.
A 2° parte consistia em flertar pelas ruas e bares, teatros e casas de som. Vagar descontraída pelas ruas de Magestri.
Cedo ou tarde um peixe mordia a isca e o pescador finalmente podia se alimentar. Assim cumpria-se a 3° fase.
Foi assim por todas as noites, ate que ele apareceu, em uma noite como todas as outras, em um bar como todos os outros.

Meu carrasco vestia um blazer azul escuro perfeitamente desenhado para seu corpo. Tinha queixo pontudo, uma face divinal. Seus olhos pareciam focados em um objetivo eterno. Calçava sapatos de couro reluzente e deslizava sobre o paralelepipedo, vindo ao meu encontro.
Seu andar determinado era encantador, a principio sorri, ele era meu desejo, e se tornaria minha repulsa.

O estranho da noite sentou em minha mesa, de frente para mim.
- Como vai Marcela? - Meus olhos saltaram das órbitas. Ele sabia meu nome, mas como? Eu jamais o tinha visto antes.
- Perdão mas... como o senhor sabe meu nome?

O homem a minha frente sorriu desdenhosamente.
"Não a o que eu não saiba. Não existe quem eu não conheça".

- Bom, deixemos de balela. Como vão as coisas?
Eu estava atônita, aquele estranho me fascinava por sua beleza e me assustava por seu parente conhecimento sobre mim. Tomei fôlego e respondi a sua pergunta.
- Muito bem, obrigada. E o senhor, quem é?
Ele se recostou no estofado da cadeira, soltou outro sorriso malévolo e prosseguiu.
-Não importa quem sou, e sim para o que vim. Sejamos francos Marcela, nada está bem, nada! - Ele gesticulava tranquilamente, me analisava tal como um médico e sua face era indiferente.

- Seu débito está crescendo muito rápido e a hora de paga-lo se aproxima. - O estranho enfiou a mão esquerda no bolso interno do blazer e tirou o que me pareceu um livro. Era marrom com pregas de metal nas extremidades.
Ele colocou o tal livro sobre a mesa, e com o dedo indicador empurrou-o para mim.
- Um presente. Eu o chamo de "O Manual de Boas Maneiras".

- Peguei o livro e fiz menção de abri-lo mas fui interrompida. O estranho segurou minhas mãos, aproximou-se de mim e disse.
- Aqui não! E nem agora. -ele me largou em seguida e levantou-se.
- Foi um prazer revê-la Marcela e antes que eu me esqueça. Siga passo á passo o manual, leia-o e entenderá o que deve ser feito.
-Bom, é isso. Até outro dia então.

E assim como chegara ele partiu, levantei-me para correr atrás dele. Gritei, mas eu não sabia seu nome. O estranho da noite nem sequer olhou para trás, seguiu em frente com o seu andar singular. Mas ele me dera um presente. Ao abrir o livro na primeira página, em uma caligrafia fina e feita á mão, lia-se...

"Físico ou Abstrato"
by. Arlan Souza.