segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ao redor da fogueira.


Façamos uma fogueira. Estou tirando meus sapatos, meu casaco e meus óculos escuro.
Coloquem mais lenha,  joguen arrogância, medo e luxo.
Vamos correr ao redor da fogueira sob a luz das estrelas e quem trouxe violão, por favor, toca legião.
Alguém trouxe vinho? vamos beber, encher a cara e rir de tudo isso.
Hei, João,vem pra cá moleque, vem dançar com a gente.
Peguem os tambores, os panos e chamem os tocadores.
Fogo gente, muita gente. Vamos dançar.
Hoje eu quero sonhar, quero subir e descer, não quero ti ver.
Agora eu vou gritar. Cansei de chorar.
Ouça comigo e deixe-me sentir, eu vou dizer o que quero.
Vou entregar meu carrasco, vou abandonar minha culpa.
Joguem tudo no fogo e vejam eu fazer sorrisos com todo esse lixo.
Hoje eu não quero beijo nem abraço, só quero o cansaço de tudo o que agora faço.
Quero me esgotar de ser quem desejo, quero o estopim de mim.
Vamos pular e rolar, invocar Deus, Emanja, Buda e Alá.
Deixe eu ser quem eu sou. Mato o medo, enterro minha dor.
Ó meu senhor se achegue,venha, venha nu, mas venha. Venha logo.
Olha o fogo, olha o povo. Olha lá minha gente, meu sangue, toda minha fé.
Bebo vinho, cidra, cerveja e champagne, mas gosto mesmo é de água pura e natural.
Estou louco meu bem, vou tirar minha roupa e me atirar ao mar. Quero me afogar mesmo sem garantias de voltar a respirar.
Quero me arriscar, mesmo sem chance alguma de dar certo. Vou pular mesmo sabendo que você
não vai me segurar.
Eu vou cantar bem alto, vou fingir que sei voar.
To chorando lágrimas de felicidade. Eita que isso é tão bom.
Vou deitar e rolar na areia, vou sumir, derramar tudo que resta, quero me esgotar.
Vou chegar ao cume.
Hora dessas talvez eu caia, então que seja de exaustão por ter feito tudo que desejo, sem medo.
Hoje eu fui eu sem você, sem amarras, sem dor, sem cobrança e sem  nenhuma ausência.
Fui completo.
 Quero ser louco sem a culpa de fazer sofrer ou ao menos incomodar ninguém.
Esqueçam de mim.
Joguei forra a sobrevivência e escrevo em letras grandes que quero é VIVER.

(desenho: Arlan Souza)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Físico ou Abstrato - Parte 6.


Relembrar o dia em que li aquele livro pela primeira vez me faz sentir-se novamente como naquele exato instante. É como se eu ainda fosse jovem. Aqueles três primeiros capítulos levam-me ao inferno e só volto ao presente quando relembro que eles jamais aconteceram, não passaram de um tiro no escuro.


Recordo-me de cada passo dado naquele dia...

Cai em lágrimas assim que terminei de ler o livro, me esbofeteei até concluir de forma precipitada o que eu tinha que fazer, ou melhor, o que me restava fazer. Tomei um banho demorado de água fria em seguida coloquei meu mais belo vestido, vermelho todo em cetim. Calcei Minhas botas de cano longo e finalizei com um batom vermelho sangue, para acompanhar, uma bolsinha com alças em corrente de ferro.
Sai do meu flat na rua Caseres às sete horas da noite e fui para o centro, meu destino era o Royal, o prédio mais alto e mais bem localizado de Magestri, saltaria lá do alto, cairia em plena avenida principal no horário de maior movimento. Foi assim que planejei minha partida, era assim que as cortinas do meu show se fechariam.
Subi lances e mais lances de escadas, quando alcancei a cobertura eu ainda podia o ouvir o vai e vem de carros, os suspiros indecentes daquela cidade pecadora. Rumei para o peitoril do prédio, coloquei o primeiro pé e vi Magestri se mostrando tentadora, nesse instante fleches me vieram à cabeça, eu vi um passado distante, vi minha mãe, minhas filhas, meu esposo. Todos apareceram de uma só vez, perguntava-me se estavam ali para me empurrar ou para me segurar. Coloquei o segundo pé e antes que eu pudesse me jogar  fui puxada.

Era ele outra vez, o estranho noturno!

Ele sorria para mim enquanto me segurava pelas mãos.

- Olá Marcela.

Eu desatei a chorar, comecei a socá-lo e a gritar.
- Me largue, me deixe ir, eu, eu não mereço continuar, - A cada palavra um soluço e uma lágrima. - me solte, por favor, me solte, eu quero MORRER.
Ele me abraçou e em seguida encostou os lábios no meu ouvido e disse baixinho.
- Sabe Marcela, você me surpreende. Acha mesmo que é só isso? Errar a vida toda e depois se punir com a própria morte?
- Pouco! Pouquíssimo. Não acha? Desse modo tudo fica fácil de mais. Sua conta é alta e sua morte não é suficiente para paga-la.

É preciso mais.
É preciso pagar e vê-los gastar. É preciso devolver e vê-los usufruir.
                                          
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(Foto: Google)