segunda-feira, 25 de novembro de 2013

De quando eles se conheceram. (Ferdinando)


Aquele era o ultimo dia do ano e Marcelo estava só!
Ele havia passado a ultima semana na ilha concluindo uma pesquisa para o mestrado, e não conseguiu encontrar lugar no ultimo voo do ano. Não fosse o fato de estar sozinho, aquele seria um fim de ano maravilhoso. Estava em Florianópolis, hospedado em uma pousada afastada do centro e bem próxima a areia branca e fresca da praia. Quando a noite chegou, lá pelas nove horas ele decidiu ir dar uma volta, talvez tomar alguma coisa e contemplar sentado na orla o chegar de mais um ano. Vestiu-se com camisa e bermuda e saiu.
A ilha estava cheia, amarrotada de gente. Marcelo pensou em voltar, mas foi convencido a ficar quando contemplou o mar e suas ondas, e mais acima, o céu. A noite estava linda!
 Avistou um pouco mais a frente um quiosque e foi até lá comprar uma bebida. Pediu uma cerveja e tornou a caminhar pela areia. Olhava ao redor com saudades de casa, lembrou-se primeiro da irmã, Bia, com quem  falara mais cedo ao telefone. Ela certamente estaria com o namorado na casa dos pais deles ao redor de uma mesa farta, com tios cheios de histórias, reais ou não. Uma ou duas tias fofoqueiras, muitos primos que não se vêem há muitos meses, ou até anos. Uma mãe coruja, um pai chatão e gente boa e todos envoltos de um sentimento aconchegante, que eu só conheço por FAMÍLIA. 
Marcelo lembrava dessas coisas com saudade, mas sem tristeza, afinal de contas em breve estaria em casa. Ele foi para perto de um grupo de estudantes, sentados ao redor de uma fogueira tocando roque nacional. Sentou perto de algumas pedras e logo foi convidado a chegar mais perto. As pessoas ficam mais propensas a amizades em noites de fim de ano, pensou ele. Na roda de música tinha bebida, tinha erva, tinha mulheres bonitas, gente descontraída e sorridente, e tinha também um rapaz, sentado um pouco afastado em um tronco de arvore seco. E foi o rapaz em especial que chamou a atenção de Marcelo.
Primeiro ele tentou uma aproximação casual, com troca de olhares, mas não rolou. O rapaz não retribuía o olhar, estava meio fechadão, perdido em pensamentos. A galera ao redor ia trocando ideias com Marcelo, ele ia cantando junto com eles também, mas sem desgrudar os olhos do rapaz do outro lado da fogueira. O cara ainda não tinha percebido as deixas de Marcelo, e foi quando ele tomou coragem e em meio ao Blues da piedade de Cazuza atravessou o circulo de pessoas e foi sentar-se ao lado do desconhecido.
 - Você não toma nenhuma cerveja. - Questionou Marcelo.
- Oi? - O rapaz se assustou como quem acabara de sair de um transe.
- Oi! Tudo bom? - Marcelo estendeu a mão para comprimenta-lo. - Me chamo Marcelo, e você?
- Tu-tudo bem... Fe-Ferdinando. - ele apertou a mão de Marcelo meio desconfiado e sorriu.
- Então - continuou Marcelo. Você não bebe?
- Bebo sim! - Você faz parte da turma - Perguntou Ferdinando.
- Acho que sim. Tomei um pouco de vinho com vocês e já estou na roda cantando faz mais de uma hora. Então acho que já faço parte da turma sim, rs.
Ferdinando sorriu outra vez.
- E você, também faz parte da turma. - retribuiu Marcelo.
- É, faço sim. Somos estudantes de filosofia da UFSC.
- Filosofia? Bacana! - Eu faço mestrado em história do Brasil.
Ferdinando estava um pouco assustado com o estranho do mestrado em historia do Brasil, mas gostou da invasão repentina aos seus devaneios. Aos poucos o papo foi tomando corpo e se prolongando. As musicas tocado logo ali ao lado deles foi ficando mais distante a medida que um ia contando para o outro o que os tinha levado até ali naquele noite de trinta e uma de dezembro. Marcelo era bastante engraçado e Ferdinando adorava sorrir.
- Você disse que bébe, mas não está tomando nada. Quer que eu pegue uma cerveja pra você.
- Não não  cara, não precisa.
- Por que não?
- Por que eu tenho medo de beber demais e fica jogando pela praia, a galera da republica gosta de zoar pra valer os bêbados de fim de ano.
- Hahahah, você ta com medo de ser zuado?
- Tô sim ué, instinto de proteção própria.
- Então relaxa! Eu cuido de você se você ficar bêbado. Nesse exato momento Ferdinando ficou sério e Marcelo também. Por algum segundos nenhum dos dois disse nada, até que Marcelo cortou o silêncio:
- Você quer sair daqui, ir dar uma volta?
- Quero sim! - respondeu Ferdinando automaticamente.
Eles foram caminhar pela praia, em uma parte mais distante de onde estavam acontecendo as comemorações. Até que pararam e sentaram na areia com os pés tocando o ultimo suspiro das ondas que quebravam na praia, um ao lado do outro. Ferdinando falou primeiro.
- E então, você não tem ninguém? Uma namorada?
- Não! E você? tem alguém?
- Também não!
O silêncio voltou a imperar entre os dois e só foi quebrado quando os fogos de artificio explodiram no céu projetando mil cores e formas na noite linda de Florianópolis. Nesse momento Marcelo  estava parado olhando para Ferdinando que contemplava as luzes no céu.
- Feliz ano novo. - desejou Marcelo.
- Feliz...- Ia respondendo Ferdinando quando Marcelo lhe surpreendeu com um beijo na boca.


... e foi assim que os dois se conheceram, no fim de um ano e começo de outro.



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

in SATISFAÇÃO





"Vai curtir.  Vai transar com alguém que amanhã você não lembre o nome.  Vai ficar bêbado"


Estas são palavras, ou melhor, conselhos, de um amigo.
E sinceramente acho que ele tem total razão. A porra da vida já é algumas vezes pesada demais pra ficarmos só de mimimi.
E esse texto é sobre isso, sobre encontrar mais satisfação no que fazemos (no que eu faço) e menos in satisfação. 
O meu problema sempre foi PENSAR DEMAIS no que fazer, quando fazer, com quem fazer. Careço de um pouco de desapego, de desleixo, de deixar a vida me levar. Mas isso é perigoso, isso é se deixar perder pra se encontrar.
Em qualquer alegoria de metas, acredito que a primeira coisa a ser feita é que para concretizar as metas teremos de abrir mão de muitas coisas, então ai cabe particularmente a cada um pesar o que pode e vale a pena ser deixado de lado e sacrificado em prol das metas. Há dor e beleza em crescer, em se tornar homem, em ser gente! No amor, no trabalho, na vida pessoal e na puta que pariu, é assim meu irmão.
A in SATISFAÇÃO é uma merda! Precisamos gozar em tudo na vida, e gozar gemendo, grunhindo e gritando! Pena que nem sempre é possível, mas façamos sempre que o for.
Uma velha blogueira muita esperta escreveu certa vez (...) Quando a coisa não valer mais a pena, quando você deixar de acreditar, quando um treco te causar mais aporrinhação do que prazer, pegue suas tralhas e se mande. Mas não espere levar um pé na bunda pra ficar de mimimi depois, se arrependendo pelo que não fez.


A descoberta sobre o que nos dá SATISFAÇÃO é a parte mais difícil, primeiro porque teremos de viver diversas coisas, provar diversas coisas, experimentar diversas coisas e depois ainda tornar a nossa satisfação algo prático e acessível. Ai depois é só fazer de propósito e todo dia.
Só devemos tomar cuidado pra não deixar que a busca pela satisfação se transforme em frustração, afinal de contas por mais que não gostemos de admitir, temos limitações. Por exemplo, se queremos trabalhar menos temos de compreender que a grana vai ser mais curta, e isso tem um efeito cascata. Por isso não adianta querer ser marajá e usar um naikão no pé e andar de Lamburguine. Não dá pra acordar todos os dias as dez da manhã e ir passar o carnaval na Bahia no bloco da Ivete, ou tirar férias na Disney.
Mas também o que não vale a pena é trabalhar feriado, dia santo, doze horas por dia pensando em trinta dias de férias ao ano. Porra, isso é desumano, é ditatorial. Liberdade pra dentro da cabeça.

O que o camaleão quer dizer, ou melhor, o que eu quero me auto recomendar é que a vida é mais.
É mais que grana, mais que prestigio, mais que roupas novas, mais que luxo e ostentação. Sejamos muito mais do que tenhamos.

Pense nisso.