quinta-feira, 31 de julho de 2014

Quando o amor vira ternura



                                                                     (imagem google)

A casa fica mais bonita quando recebemos visitas. As vozes aqui proferidas foram muitas, foram diversas. Cada um de nós tem algo a dizer, cada pequena pessoa desse mundo redondo, louco e doido tem um ponto de vista. Não briguemos! O diálogo é tão mais bonito e vantajoso.
Para que guerras? quando podemos fazer um sarau de poesia e pontos de vista.
Foi lindo minha gente, as páginas deste blog estão muito mais ricas desde então, e esse camaleão que vos escreve é felicidade pura por receber em sua casa os amigos. Obrigado leitores, amigos, blogueiros e afins, o que fizemos aqui ao longo deste mês foi muito mais que uma comemoração por uma data especial, foi a celebração da palavra escrita e dita. Foi uma contribuição singela, sim, mas cheia de  verdade e carinho para a literatura e para os apreciadores da rima, do verso e da prosa.
Sintam-se todos abraçados e agradecidos.
E para fechar as comemorações eu trago ele, o que começou a festa.
Pedro, o parceiro mais que primeiro do Camaleão. Apreciem.

                                                                              ...





Um casal de jovens chamado Claudio e Roberta de aproximadamente dezesseis anos, sempre muito amigos, compartilhavam entre si todos os seus planos, seus medos, anseios e também todas suas particularidades amorosas, sem nenhuma restrição, vergonha ou preocupação do que um iria achar do outro.   Muitos achavam que os dois tinham um caso, mas os mesmos não ligavam sobre os pensamentos que os outros tinham por eles, acreditavam que as pessoas tinham inveja de sua amizade forte e verdadeira. Essa amizade que era assim, desde os tempos de criança, mas, o que eles não sabiam que o destino começaria a liga-los de uma outra forma, uma ligação mais profunda.  Roberta foi quem começou a olhar Claudio com outros olhos, ao passar o tempo, os dois saíram da adolescência e logo amadureceram. Não só os seus corpos, mas sim suas mentes. Roberta não tinha mais aquele sentimento de amiga por Claudio, começava a se manifestar dentro daquele corpo feminino, formado por dotes esculturais de belos seios, coxas torneadas, curvas bem acentuadas e definidas cobertas por uma pele morena de cor de cravo e cheiro de maça e canela um sentimento traiçoeiro até então naquele presente momento. Sim, meus caros, a deusa Afrodite tocou aquele coração puro e ingênuo que revelou toda magia o poder da sedução e os segredos do mais nobres do sentimento, o amor.  
Mas Roberta nunca manifestou-se em dizer isso a Claudio, pois além de ter receio sobre o que ele iria pensar ela era sua confidente, ela sabia de como era Claudio pois sabia dos seus relacionamentos, como iniciavam e já previa como os mesmos terminariam.   Roberta conhecia Claudio mais do que ele conhecia a si próprio.  Um belo dia, Claudio contando como terminou mais um de seus breves relacionamentos, não esperava a atitude de sua amiga, que de forma inesperada, parou sua conversa ao meio e declarou, enfim, aquele amor que estava adormecido.   Claudio não aceitou, dizia a ela que estava confusa e que não via a mesma com uma mulher e, sim, como uma amiga e quase uma irmã. Roberta disse que não se importava pois sabia que uma hora Claudio também despertaria o amor dentro dele.  O tempo passou, Claudio e Roberta continuaram amigos, tiveram seus relacionamentos passageiros, entretanto, Roberta nunca negou que aquele sentimento que tinha por Claudio tinha se apagado.    Foi que aos poucos que Claudio passou a vê-la com o instinto masculino entre um homem e uma mulher, de fato. Não estava ali mais a sua amiga, seu porto seguro, estava uma mulher ardente que atraía tantos olhares, porém, a mesma só tinha mira certeira para ele, enfim, os dois juntaram seus sentimentos recíprocos e seu instinto sexual aflorado e, assim, nasceu um relacionamento onde o desfecho foi um casamento com filhos.   Mas quis o destino, que juntou um casal em um paraíso de sentimentos de amor e amizade, levar um deles a viver um inferno astral. Claudio mesmo vendo o quanto sua mulher era admirável, não só pelas características físicas mas pelos aspectos individuais como boa esposa, fiel, a essência mais pura de ser mãe, carinhosa, compreensiva, dedicada, enfim, ele começa a perceber que o seu relacionamento de ter se casado foi um terrível e grande erro, pois aquilo que explodiu dentro dele há um determinado tempo não era amor de marido e mulher, e sim era desejo, fogo, paixão.  Agora nesse momento ele vê que o seu casamento tem todos os sentimentos, inclusive o amor mas não um amor entre homem e mulher, mas um amor de amigo, o que podemos chamar de ternura. fogo mesmo da paixão e do amor real desapareceu com o passar dos anos. Roberta meio que desconfia sobre esse possível fim de desejo e quando põe as cartas na mesa para ter aquela terrível discussão da relação que qualquer homem normal detesta, ele foge e diz que isso é coisa de mulher, teimosias que ela tinha desde sua adolescência que ele tanto conhecia, mas o instinto que mora no fundo da nossa profunda e escura inconsciência não se engana.  Roberta morre de medo em saber em que aquilo que ela tanto desconfia pode ser a mais terrível realidade e Claudio tem medo de estar errado que essa falta de paixão seja algo normal e que um dia vai passar e aquele insano desejo volte, porém, não volta dia após dia. E assim eles vão levando a rotina de um casal ligado pela amizade do passado, sacramentado pelo fogo da paixão e unidos por uma singela ternura, vivendo amargurados por medo de magoar um ao outro e vivendo de uma triste fantasia chamada de infelicidade. 


  Pedro Bravo Frutos Júnior Professor de história na rede Estadual de São Paulo.    

domingo, 20 de julho de 2014

Quando o Coração dele virou Cinzas

                                          

Foi em uma madrugada fria lá em 2009 que eu encontrei sem querer o blog "Sobre Ninfas e Sátiros" e por ali fiquei durante algumas horas.
Me identifiquei com o que se escrevia ali; era doce e frio, triste também, mas aconchegante. Mais que isso, encontrei verdade naquelas palavras, e foi por isso que fiquei. Aos poucos fui visitando a página mais e mais, até que comecei a comentar as postagens e me lembro quando fui intrometido e pedi em um dos comentários para que a blogueira fizesse postagens mais frequentes,  foi ai que começou minha amizade a distância com ela.
Hoje trocamos visitas um ao blog do outro, e tenho tido a felicidade de estreitar distâncias através de palavras. 
Ariela é seu nome, o mundo é a sua casa e na fantasia ela reina absoluta.

Confesso que sempre quiz um texto dela aqui, porque tem magia naquilo que ela escreve.
O camaleão está honrado em recebe-la.
Ariela, minha amiga blogueira, seja bem vinda!

Apreciem.
                                                                    ...

Tudo começou longe. Óbvio. Paixões assim nunca acontecem por perto. Mas enfim, ele estava longe e ela também. Ele gostou dela, mas assim, só gostou. Mas ela meio que o esnobou.
Só que ela voltou. Achou ele por aí. E ele tinha gostado dela, lembra? Era um papo meio assim, meio sem contexto. Mas gostou.
Aí, um dia, numa festa sem pé nem cabeça, eles se encontraram, um sem querer meio por querer... Pronto, foi consumado.

Mas claro, a vida não podia ser legal com ele. Por que seria? Ele estava longe e chegou a hora de voltar.
Ele ficou meio triste, ela disse que estava também. Mas disse. Só disse. Porque era só isso que ela fazia, é só isso que ela sempre fez. Disse.
E ele foi embora. Assim mesmo, sem mais nada. Só foi. Mas foi irritado. Porque ele gostou dela. Só que agora ela tava longe e ele não. Ele estava realmente irritado, sabe? Porque ele não queria mais um amor perdido. Não era justo os amores dele sempre se perderem por aí, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Foi aí que ela decidiu voltar também. Não que ela viesse para perto, mas pelo menos não estaria mais tão longe, e talvez por, quem sabe, uns cinco segundos o coração dele bateu mais rápido. Ele ficou muito irritado. Não era para ele se apaixonar assim, não é assim que as coisas funcionam. Mas como lidar com as constantes aceleradas que o coração dele dava quando ela ia sem mais nem menos falar com ele? Como lidar? Ela dizia que gostava dele. Claro, como sempre, dizia, só dizia. Só que ele não, ele gostava mesmo dela, do seu jeito sarcástico e irônico, com o humor negro. Ele gostava, gostava demais.
Foi então que ele decidiu ter um daqueles cinco segundos de coragem insana e foi ver a menina. Assim, sem mais nem menos. Um belo dia mandou o "to indo aí te ver". Talvez, por outros cinco segundos, uma mera esperança tenha surgido nele. Talvez a vida não tivesse sido tão ruim com ele, talvez aquele não fosse um outro amor perdido. Quem sabe? Talvez estivesse na hora dele deixar de ser tão inseguro e desconfiado e passasse a confiar nas pessoas. Só um pouco. O que poderia dar errado afinal? Ela dizia que também gostava dele. Mas dizia, só dizia.
Enfim, ele foi, sem medo de ser feliz. E, de fato, a felicidade estava estampada na alma dele quando ele voltou. Não podia dizer que não tinha certas esperanças, mas não queria se apegar agora, não agora. Mas ela... ela dizia que tinha esperanças, ela dizia que tinha se apegado. Sempre dizia. Ela dizia que queria vê-lo de novo, que estava com saudades. Ele lutou, com todas as forças, mas como? Ela estava lá, dizendo que gostava dele!
Ele se sentiu mal. Se sentiu mal porque achava que a vida era ruim com ele por sempre tirar seus amores, mas agora que ela havia lhe dado um, ele ficava com graça.
Foi aí que ele decidiu se apaixonar. Simples assim. Se apaixonar enlouquecidamente, como se mais nada no mundo fosse importante. Ela deu o espaço, ele aproveitou. E eles se amaram, um pouco longe um do outro, mas se emaram. Só que por exato um mês.
E aí o coração dele partiu pela primeira vez.
A sensação que ele teve foi que haviam amarrado dez bigornas de ferro no corpo dele e o jogado no mar. Era exatamente a sensação de ver reflexos da superfície ao longe, enquanto se está no fundo, morrendo aos poucos, sufocando, sem ar, sem ar...
Sim, foi exatamente essa a sensação que ele teve.
Depois disso, ele simplesmente queria que a dor o consumisse de tal forma que ele morresse, tentava com todas as forças morrer de tristeza. Ele a odiava com todas as forças que tinha, mas a amava com todas as forças também.
Só que aí, ela apareceu! Quer dizer, reapareceu. Como se nada tivesse acontecido, dizendo que gostava dele, que estava com saudades, que queria vê-lo de novo.
Nem toda a irritação do mundo era tão grande quanto a dele e, sinceramente, só não era maior porque parte dele deixou de ficar irritado para ficar confuso. Ele queria dizer para ela que ela não prestava, que ela era uma vadia qualquer. Mas como? Ele pedia, implorava aos céus para saber como fazer isso. Ele não podia, não podia. Porque se ele falasse... ela nunca mais falaria com ele. Porque ela falava que gostava dele e ele gostava dela também. Ele não sabia o que fazer, não sabia. Simplesmente não sabia.
Então ele empurrou a situação, sempre respondendo, sempre se falando... e ela sempre dizendo o quanto gostava dele, o quanto estava com saudades, o quanto queria vê-lo de novo. E a cada dia, uma nova rachadura aparecia no coração dele. A cada dia a dor ficava mais funda. A cada dia... a cada dia.
Só que chegou uma hora que ele cansou. Ele estava lá sofrendo por uma causa perdida, mantendo uma coisa que o fazia mal. E só ele estava sofrendo. Só ele, mais ninguém. E decidiu superar e saiu espalhando o resto de amor que tinha em seu corpo por aí. Claro, que muitas lágrimas rolaram antes disso, mas era hora de superar, tinha que ser!
E sabe que ele estava conseguindo? Sabe que por uns dias ele parou de odiá-la? Por algum motivo ele tinha tomado uma decisão e todo o universo estava conspirando em favor dele. Ele se sentiu feliz. Ele não entendia, porque fazia tanto tempo que não se sentia plenamente feliz, que ele não conseguia entender o que estava acontecendo com ele. Parecia que nada no mundo, nem ela, seria capaz de tirar essa felicidade nele. Mas parecia, só parecia.
Porque agora era a vez dela. Assim, sem mais nem menos. Um belo dia mandou o "to indo aí te ver".
Foi como se ele tivesse morrido e ressuscitado cem vezes seguidas.
Ela iria ver ele? Por que? O que ela queria?
Ele não sabia.
Será que ela não sabia que tinha deixado o coração dele em pedaços? Será que não sabia que ele estava superando? Será?
Mas era bem o jeito dela, sabe? Aparecer assim de surpresa, com aqueles olhos sarcásticos, meio que sugerindo, que questionando. Mas ela dizia. Sempre dizia. Dizia que gostava dele e ele gostava dela também. Como duvidar de um sentimento que ele tinha também?
E ele acreditou, assim, simples assim. Acreditou porque gostava dela. Acreditou porque ela dizia. Mas ela só dizia, só dizia. Mas como não acreditar? O coração dele se recusara a partir de novo, ela estava indo vê-lo. ELA estava indo, como não acreditar?
E ela foi. E ele a viu. E ele lembrou poque era apaixonado por ela.
Desde então, eles não pararam de se amar. Não havia um minuto do dia que não se amassem. E daí que estavam um pouco longe? Nada mais era importante, nada mais. Enquanto eles se amassem. Mas ela dizia que gostava dele, mas só dizia, só dizia. E ela fez ele acreditar.
O problema é que vida definitivamente não era legal com ele: quando finalmente seu coração começou a se recuperar, quando finalmente esse lado da vida dele estava dando certo, a vida fez com que todas as outras partes dessem errado. Todos os sonhos, todas as esperanças tinham ido por água abaixo. Menos ela.
Nesse ponto, ele estava morrendo, todas as partes do corpo dele estavam morrendo, a vida o tinha feito morrer. A única coisa que sobrava daquele corpo era o coração, que ela insistia em segurar e manter inteiro, apesar de estar todo partido. O único motivo dele acordar todos os dias estava sendo ela dando vida ao coração dele, a única coisa que ainda estava viva em seu corpo. Ela dizia que gostava dele, que queria que ele ficasse bem, que queria vê-lo. E ele acreditava, porque ela tinha ido vê-lo, porque estava dando vida ao coração dele, porque ela era sua única e última esperança.
E ela deu vida ao coração dele, um pouco longe um do outro, mas deu. Só que por exato um mês.
De novo. Um mês. Só um mês.
Foi então que ela, mais uma vez, partiu o coração dele. Mas dessa vez foi diferente: ela partiu, moeu, pisou, destruiu e ateou fogo no coração dele. E o coração queimou. E o fogo foi consumindo cada parte, cada centímetro.
Até que ele virou cinzas. E ela o deixou lá, justamente quando ele precisava dela, justamente quando ela era a sua única esperança.
E ele morreu. Simples assim. Morreu.
Morreu sem entender. Morreu sem saber.
Só o que ele não sabia, é que existia uma força dentro dele, uma força que até hoje ele não sabe o que é. Que fez ele ressuscitar das cinzas. Não completamente, só algumas partes.
Mas essa nova vida estava repleta de dor. Uma dor insana e profunda, que não deixava ele viver, não deixava ele respirar. Era a dor de tê-la deixado fazer o seu coração virar cinzas. Dor de ter que seguir em frente. Dor.
Uma dor tão grande e extrema que o consumia. Toda sua força, toda a sua alma se resumiam em dor. Dor de ser um idiota. Dor de ainda ama-la. Dor.
Foi aí que ele a deixou ir. Deixou ela ir embora de dentro dele. Porque ele não aguentava mais, ele não aguentava. Ela não cabia mais dentro dele, então, por que mantê-la ali dentro?
Foi então que ela decidiu voltar para ele. De novo. Ela queria voltar, ela sempre tentava. Ela dizia que gostava dele. Dizia, só dizia, como sempre. Dizia que iria ajudá-lo. Dizia que não o faria mais mal. Mas dizia, só dizia. Como sempre.
Só que agora não tinha mais espaço para ela. Não tinha. Não mais.
Porque ela morava no coração dele.

E o coração dele tinha virado cinzas.



                                                                                                                     Ariela de Oliveira


(fotos: I am Dust, de Olivier Valsecchi)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Delírios derivados da Insônia


(google)

O convidados continua, e  hoje quem veio dar o ar da graça foi a Thais, uma amiga mais recente.
Escritora, mãe, supervisora comercial, espontânea, doidona e sempre alegre. A Thais pelo que sei, já até escreveu um livro, o que não me surpreende, porque ela escreve pra caralho. Os textos da Thais tem a sutileza de sintetizar e traduzir muitos dos sentimentos comuns a todos nós. Ela quase sempre fala da vida, do modo de vida, do amor. A Thais é daquelas pessoas espontâneas, pra frente, guerreira!

Com vocês, Thais Velloso Marangoni.
                                                 


Então é isso. Você sabe que vai passar noventa anos habitando esse tempo-espaço, com alguma sorte terá saúde e histórias para contar. Receberá um lápis, uma borracha e inúmeros blocos de nota para preencher com dias calmos, ora turbulentos, ora tudo misturado…e sem dúvidas, é o melhor que você poderia ter.
Não terá o direito de reclamar, afinal, você é um espermatozoide que vingou, é um vencedor e também por isso deve procurar fazer por onde honrar esse compromisso. Fazer a diferença nesse mundão-de-meu-deus. Deixar sua marca. Herdeiros, quem sabe. Mas produzir algo. Ser alguém que valeu a pena conhecer.

E você ganha dois aliados, chamados carinhosamente de pai e mãe. Claro, tem toda aquela gente em volta que é a família, mas de verdade, com quem você poderá contar pelo menos nos primeiros trinta e cinco anos, são esses dois.
E tudo o que você tem é o vazio de ser livre. Estar livre. Poder escolher… para onde vai, com quem vai, se vai! Ou fica. Esse é o maior dos dilemas de um espermatozoide que vingou: ele chega aqui, e tem tantas possibilidades que se perde, se assusta, não sabe o que fazer com tanta liberdade.

Seria hipocrisia dizer que a liberdade é algo ruim, porque não é. Mas que ela intriga, ah, isso sim. Inúmeros caminhos, escolhas, que muitas vezes excluem outras…ah! Que bom seria experimentar todas as faces para só depois escolher uma. Como aquela opção ao preencher um cadastro, você visualiza antes, modifica aqui e ali e pronto: o final fica perfeito.

Mas a vida não é simples assim. Ela não permite visualizações. A vida é um eterno rasgar-se e emendar-se, algum sábio disse, e eu digo mais, a vida não permite ensaios, meu bem! É tentativa e erro, é prova diária, a vida é para provar! Saborear bons e maus momentos, deixar entrar pessoas, aprender com elas, depois soltá-las…Deixar que elas saiam como entraram, com sua liberdade, mas jamais sem que levem um pouquinho de você.

Como o pólen que as abelhas cuidadosamente espalham pelos campos, assim são as pessoas na vida umas das outras. E aí você me diz que não, que precisa delas, tem aquela coisa toda do apego, que não dá para ser feliz sozinho e eu respondo calmamente com um sorriso! Meu bem, você saiu sozinho da barriga da sua mãe, chorou um pouco, é verdade, mas sobreviveu. E exigir do outro uma dedicação incondicional, é pedir para sofrer. Ninguém vai se preocupar se você está carente, simplesmente porque vai estar ocupado com sua própria carência!

Eis o mal do século XXI: a solidão! Algo que deveria estar extinto, uma vez que vivemos em um mundo onde a tecnologia é tão avançada que isso chega a ser incoerente, ao invés de aproximar as pessoas, ela as afasta cada vez mais. A solidão está aí, forte, presente, e com ela vem o medo e a carência e sem dúvidas, escolhas das quais você certamente se arrependerá.


domingo, 6 de julho de 2014

O 5° aniversário do Camaleão.

(google)

O Camaleão Sentimentalista completou cinco anos de existência no ultimo dia 20, e para comemorar ele decidiu convidar novamente os amigos, os colegas e as pessoas de bom coração e mentes abertas ao saber. Ao longo do mês de julho o blog receberá ilustres convidados acompanhados de seus textos, contos, cartas e tudo o mais que se expresse através de palavras. Sendo eu o dito camaleão e proprietário deste blog, confesso minha felicidade e contentamento em ter chegado até aqui; de todos os projetos que me dediquei, das coisas que já fiz e assinei, o Camaleão Sentimentalista é sem dúvida dentre todas elas o meu maior orgulho e prazer.

Sejam todos muito bem vindos; leitores, amigos e blogueiros. 
Pedro Bravo Jr. foi o escolhido para abrir às comemorações, ele já é de casa, o camaleão o recebeu em outras ocasiões e por isso dispensa apresentações.
Apreciem.


Três mundos distintos e um elo de ligação: a alienação

 As histórias a seguir se passam na época onde o contato pessoal era mais importante e valorizado do que hoje, pois a tecnologia que veio para nos facilitar o acesso a tudo é a mesma que nos segrega e, principalmente, nos aliena.  Tudo se passa em São Paulo em meados dos anos 90. Eram sete horas da manhã, quando o despertador toca para acordar de forma, agressiva, opressora e controladora Wellington, de 26 anos, que cursou o ensino médio de forma regular na escola estadual de sua comunidade no bairro do Grajaú. Ajudante geral de uma firma no bairro da Vila Matilde, Wellington tem que levantar nesse horário e, rapidamente, tomar banho, arrumar sua mala com o uniforme e sem tomar café (pois só vai tomar no refeitório da firma com os colegas de trabalho). Pega o ônibus às 7h35 para chegar na empresa às 08:40, bater cartão às 09:00 e deixar o posto de trabalho somente às 18:20 Até chegar em casa já são 20h. Isso se repete de segunda a sábado. Wellington, em suas poucas horas de conforto e lazer, se diverte ouvindo o que mais se consome nas comunidades carentes, o pagode, mas também tem outras paixões. Adora assistir futebol pela televisão (afinal ganha pouco e não tem tempo para ir no estádio. É torcedor fanático do Santos, time que aprendeu a gostar com seu pai Glauber falecido a dois anos de infarto), paquerar as garotas do bairro ecomo resquício de sua infância, ele empina pipas em um descampado próximo da sua humilde casa.  Wellingtonnão discuti política não se interessa por ler jornal, livros, não gosta de cinema e nem de teatro, não pensa em nada a longo prazo (ele segue aquela frase da música do Zeca Pagodinho. “Deixa a vida me levar”), faz o que dá vontade (quando há tempo para isso), não reclama do pouco que tem e agradece a Deus tudo que possui. E assim passa-se os dias, tudo sempre igual. Rafael e Diogo são amigos que se conheceram quando eram adolescentes em uma loja de departamento comercial e logo ficaram grandes amigos pois tinham um ponto incomum, o grande nível intelectual. Adoravam tudo que não estava ligado ao senso comum, gostavam de artes, livros, cinema, política etc.  Estavam naquele lugar apenas para pagar metade da mensalidade de sua faculdade (afinal não se tinha a oportunidade dessas bolsas federais que os governos assistencialistas oferecem atualmente), pois a outra metade os pais bancavam.  O tempo passou e os meninos cresceram e conseguiram trabalhar no que justamente se formaram, o que não é fácil. Apesar de profissões distintas, não deixaram de ser amigos.  Diogo trabalha para uma revista burguesa, que defende ideias neoliberais (como por exemplo a implantação do Estado mínimo), e está sempre defendendo as ideias das elites. Não concorda com as propostas da empresa pois percebe que não faz parte daquela classe, no entanto, Diogo sempre foi ambicioso, gostava e gosta do que é bom e caro, para poder ostentar para os outros seus status, o que é absolutamente normal, afinal o capitalismo é um sistema onde as pessoas compram o que não precisam, com um dinheiro que não tem para mostrar-se para os demais uma pessoa que não é. Diogo mora na região da Vila Sabrina e trabalha no bairro belo mas, triste da Aclimação, e não tem hora certa para entrar no trabalho. A sua rotina semanal é de segunda a sábado (quando as vezes tem que trabalhar de domingo), entretanto, não tem hora para sair, está sempre ocupado e mesmo em seu momento de lazer e descontração está falando do cotidiano profissional. Vive e respira trabalho, até os seus hobbies preferidos já não executa mais, a vida dele é viver e doar sua intelectualidade, sua saúde e até mesmo sua alma para o jornalismo daquela revista.  E assim passa-se os dias, tudo sempre igual. 
Já Rafael é utópico, idealista e guerreiro de conceitos esquerdistas Atua como professor de Geografia na rede estadual. Mora na Vila Maria, no mesmo bairro onde trabalha. Acorda diariamente às 06h20 para chegar às 07h e sair às 12:20, depois disso ele sai apressado  se encaminhando para trabalhar em outra escola onde tem mais seis aulas, ou seja, sai do trabalho às 18h e chega em casa por volta das 19h15 de segunda a sexta “na teoria”, pois quase sempre está ocupado com correção de atividades escolares, planejamento de aula, reuniões do sindicato e etc.  Rafael é muito atento a tudo que se passa na sociedade e adora discutir criticamente com todos, até com seu amigo Diogo, seja por telefone ou pessoalmente. Rafael tem esposa e um filho pequeno, mas, infelizmente, é muito concentrado no profissional e pouco no pessoal.  E assim passa-se os dias, tudo sempre igual. Sendo assim, o que eles tem incomum?!  Os três personagens em questão mesmo vivendo rotinas  em camadas sociais distintas, todos sofrem do mal da alienação, que consomem suas vidas e por causa desse mal eles não tem a oportunidade de saber o que é viver, eles apenas sobrevivem em sua sociedade cosmopolita que tem como essência a maldita pressa. ALIENAÇÃO é a doença psicológica que prende as mentes em um cotidiano estressante, que adoece o corpo e impede que as pessoas de sentir o que a vida pode oferecer, ou seja, um equilíbrio em aproveitar tudo em benefício para o cérebro e para o físico, e engana-se que a alienação é algo que atinge só as pessoas do senso comum, atinge sim a todos aqueles que focam um só elemento, temos alienados políticos, culturais, esportistas, sociais e etc. A história mostra que Wellington trabalha direto e só dedica o seu tempo para o lazer e esquece de absorver toda e qualquer produção humana a respeito de algo mais crítico e reflexivo. Já o personagem Diogo vive em função da manipulação de massas que a mídia impõe e o mesmo vive em um intenso comum para poder tentar entrar no mundo das elites mesmo não pertencendo aquela classe. Rafael que trabalha com a educação e formar opiniões, construir mentes criativas e críticas vive em um antagonismo, pois ele se dedica tanto em auxiliar outras pessoas em melhorar uma sociedade que se esquece de viver para si, ou seja, os dois não aproveitam a parte do lazer.  A alienação é nada mais nada menos do que o fator que faz com que as pessoas não enxergue nada ao seu redor ou até mesmo na sua frente, somente aquilo que nós achamos o que é importante, a verdade absoluta, o elemento fundamental para nossas vidas, e só depois, muito depois, é que a vida irá mostrar o que não  aproveitaram, gozaram, deliciaram o melhor que a vida tentou o todo tempo proporcionarOs indivíduos alienados só viveram o que colocaram como foco e quando perceberam o tempo já tinha passado. Eles envelheceram e não iram aproveitar mais o bom da vida, pois perdeu a essência da mesma, a força da juventude, essa mesma força que desperdiçaram com coisas secundárias, e o que irá acontecer com os mesmos agora, sem saúde e condenado a viver com a velhice e a solidão? A resposta é simples, viveram s lamentando e perguntando a si mesmos porque não aproveitaram mais a vida naquele exato momento que passou e que nunca mais voltará, estarão arrependidos e reclamando da vida em seus respectivos cantos dia após dia. E assim passa-se os dias, tudo sempre igual.    






Pedro Bravo Frutos Junior, Professor de História da rede Estadual de São Paulo.