segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Digo que quero sentir o mundo mas quando sou posto ao vento ao invés de bater asas eu choro feito um menino resmungão com medo de cair.
Esse medo, esse vazio, essa maldita definição, quero me livrar disso. Eu sei, caminhar é melhor, porque sentar e pensar é envelhecer sem fazer nada. Pois então que eu caminhe e pense ao mesmo tempo.
Sempre que saio de férias eu volto muito introspectivo, matutando um monte de coisas; trabalho, faculdade, pessoas, o mundo e o universo, coisas sérias, coisas mundanas, e isso se prolonga por algumas semanas pelas quais vou me torturando a ponto de ficar com dor de cabeça e derramar  algumas lágrimas.
Não vou falar agora sobre minha ultima viagem, isso é papo pra outra noite, uma mais estrelada. Hoje quero deixar aqui minha ausência de fé, para então preencher-me de outros sentimentos, a começar  pela própria fé.
E a fé em questão não é apenas divina, porque sim, eu acredito em um Deus, talvez não de uma forma convencional, o Deus dos livros, do céu e inferno e templos e igrejas. O Deus que eu acredito é um cara com o qual converso todas as noites, durante o dia, em voz alta ou em pensamento. Nossa conversa não tem protocolo; começamos a conversar sem cerimônias porque é assim que funciona pra mim e é assim que me sinto bem e à vontade. E o mais importante: é assim que me sinto ouvido.
Mas a fé em questão é a que tenho sobre mim mesmo. A fé que tenho deixado ir ao chão.
Sinto me tal como um  menino que estava brincando e agora ouve sua mãe o chamar para ir a escola. É o seu primeiro dia de aula no primeiro ano letivo e ele está com medo, assustado e cheio de dúvidas. O menino quer ficar em casa, ver tv e brincar na terra do quintal. E por medo ele chora, mas chora sem saber que na escola tem amigos e tem coisas novas que ele vai gostar de aprender. Tem merenda com sabores e cheiros que ele nunca sentiu, e também tem terra pra correr e brincar.
Eu já fui esse menino e me lembro que mesmo com medo decidi ir a escola e lá eu descobri um mundo fantástico e lindo. Mas por algum motivo hoje eu sou este garoto novamente e estou confuso e com medo como da primeira vez. Parece que esqueci tudo que aprendi sobre a força, a coragem e a beleza de aprender coisas novas.
Essa semana eu pensei sobre definições. Sai do meu último emprego em janeiro e devido a uma viagem marcada muito antes eu não pude ir em busca de um novo logo de imediato e isso me fez ficar apenas com a faculdade como ocupação. No primeiro semestre do ano vivi da expectativa da viagem que estava por vir e da rotina de estudos, mas nos intervalos que eram constantes eu me questionava:

Meu nome é Arlan de Souza Rocha e o que eu sou? Um estudante de economia? Um ex supervisor comercial? O filho da minha mãe? Um estereótipo? Um ser humano? Não consigo chegar a nenhuma conclusão muito concreta e por isso desisto. Mas percebo que me limitei a pensar em mim como uma coisa que precisa ser nomeada e definida, como uma palavra no dicionário, ou um artigo de uma loja de departamento que precisa ser cadastrado e catalogado no sistema. Deixei de fora a pessoa, o ser humano. Eu adorava trabalhar em meu último emprego, que foi o primeiro. Mas em certo ponto a magia, o encantamento e o brilho nos meus olhos foram diluídos. Não quero aqui apontar responsáveis, até porque se houvesse algum, este seria eu. Prefiro olhar para tudo isso como um ciclo que chegou ao fim. Queria ser menos dramático e encarar as coisas como mero acaso, pessoas morrem, mudam de emprego e se casam todos os dias. Ao inferno com o meu egoismo.
Mas agora estou aqui, em processo de transição. Fechei a porta e me pus a chorar, estou com medo de abrir a próxima, na verdade, estou apenas caminhando em busca da porta seguinte e é esse caminhar que me causa medo, porque preciso encontrar um novo lugar, um lugar que seja tão prazeroso, gostoso e cheio de coisas novas para aprender como foi o ultimo. E eu não disponho de tempo para vagar por ai, sou bicho apresado, a inércia me incomoda e enraivece. Talvez este menino burro tenha se esquecido que o aprendizado se dá ao longo do caminho e a grande prova é superar e absorver tudo que agrega. Este não é um ciclo novo, é repetição. É uma mesma prova só que para uma oportunidade diferente.
Eu preciso ser, fazer e sentir. Vou pegar todas as definições que fiz de mim, recorta-las, misturar todas e jogar pro alto. E então, quando todos os pedaços voltarem ao chão eu serei quem preciso ser: todos que fui, incompleto e em construção, mas sem métrica, regra ou passo a passo. Depois de pegar os pedações e colar fazendo abstrações eu vou caminhar e pensar e fazer o que preciso e quero.
Eu preciso de ritmo, ritmos novos.

Que eu tenha fé, e a tenha em abundância.